Nem sempre lembrado, o S de ESG é indispensável

Consumidores mais exigentes impulsionam o mercado de produtos oriundos de boas práticas empresariais

Por João Freire

Na sigla ESG, S é de social. Como as empresas se relacionam com seus trabalhadores e a comunidade? Existem políticas efetivas de diversidade e inclusão? Há envolvimento com a comunidade nos locais onde a empresa atua?

Para se adequar à legislação, aos anseios dos consumidores e acompanhar o mercado, a pauta ESG (ambiental, social e governança) não pode ser apenas uma estratégia de marketing para atrair consumidores e investidores. O consumo de produtos sustentáveis em 2023 cresceu 40% no Brasil (Fonte: Mercado Livre), acima da média da América Latina, e no mercado financeiro a economia sustentável movimentou mais de R$ 137 bilhões em renda fixa na B3 em 2023 (Fonte: B3).

As práticas empresariais que ignoram os critérios ESG geram impactos ambientais e sociais profundamente negativos: desmatamento, poluição ambiental, exploração dos trabalhadores e violações dos direitos humanos, entre outros.

Quem fica com o lucro?

Produto da bioeconomia na Amazônia, a cadeia produtiva da castanha do Pará é um exemplo de negligência com o social. A indústria fica com 79% dos resultados financeiros e as comunidades tradicionais, que produzem as castanhas, recebem apenas 11%, de acordo com o livro Bioeconomia para quem? da Universidade de São Paulo (@usp.oficial). Para os autores, a bioeconomia na Amazônia deve contribuir para a “redução das desigualdades históricas junto a seus povos originários”.

Segundo o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (@ideflorbio), o extrativista recebe (em 2024) R$ 200,00 pela saca com 60 quilos de castanhas do Pará, ou R$ 3,33 por quilo. Nos supermercados de Brasília, por exemplo, o preço do quilo da castanha varia de R$ 139,96 a R$ 199,80, praticamente o mesmo valor da saca vendida pelas comunidades amazônicas.

Mesmo considerando todos os custos agregados ao longo do processo (transporte, embalagem, energia, impostos etc.) é uma diferença exorbitante: o consumidor final paga um valor 60 vezes maior do que o produtor recebe. Situação injusta nas duas pontas: o produtor recebe pouco e o consumidor paga muito.

A castanha não é um caso isolado. Para se tornar social e ambientalmente responsável não basta comprar produtos da bioeconomia. É fundamental considerar os impactos sociais e ambientais associados a todas as etapas da produção. A publicação da USP destaca a importância de haver uma “divisão equitativa dos benefícios oriundos da sociobiodiversidade”, como forma de fortalecer a “cidadania amazônica”. 

Restrições

A crescente demanda por produtos oriundos de boas práticas empresariais se reflete em novas leis mais rígidas. Um exemplo é o European Union Deforestation Act (EUDR), lei antidesmatamento da União Europeia (UE).

Antes de disponibilizar os produtos para os consumidores, operadores e grandes comerciantes da UE vão verificar se o produto é proveniente de área livre de desmatamento e que foi feito de acordo com a legislação do país de origem, incluindo a proteção dos direitos de povos indígenas e comunidades tradicionais.

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